Um recente caso julgado pelo Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região (TRT-4/RS) chamou a atenção de profissionais de segurança e gestores de RH: um trabalhador foi condenado por inventar um acidente de trabalho e mentir na Justiça. A decisão reforça a importância da veracidade das informações, da documentação correta dos acidentes e da atuação técnica da engenharia de segurança do trabalho.

O caso: mentira, perícia e condenação
Segundo o processo, o funcionário alegou ter sofrido lesões no punho durante suas atividades na empresa, mas omitiu que o ferimento verdadeiro havia ocorrido fora do trabalho — após desferir um soco em uma porta. Durante o julgamento, as versões contraditórias e a ausência de provas levaram à conclusão de que se tratava de uma tentativa de fraude.
A perícia médica judicial confirmou que não havia nexo causal entre as tarefas realizadas e as lesões diagnosticadas (tendinite e síndrome do túnel do carpo).Por isso, o trabalhador foi condenado por litigância de má-fé, com multa de 2% sobre o valor da causa (R$ 1.400).
Análise técnica: visão de um engenheiro de segurança do trabalho
Como engenheiro de segurança do trabalho, vejo esse caso como um alerta duplo: tanto para empresas quanto para trabalhadores. A mentira sobre acidentes de trabalho fere princípios éticos e compromete a credibilidade do sistema de prevenção. Mas, ao mesmo tempo, mostra que muitas empresas ainda não possuem processos sólidos de investigação e registro de incidentes.
A importância da rastreabilidade e documentação
Cada evento, mesmo os quase acidentes, precisa de registro detalhado: horário, local, testemunhas, fotos e descrição técnica. A rastreabilidade dos fatos é a melhor defesa contra fraudes e também uma ferramenta de aprendizado para evitar novos incidentes.
O papel fundamental da perícia técnica
A perícia trabalhista é o elo entre a medicina ocupacional e a engenharia de segurança. Ela garante uma análise imparcial sobre o nexo causal entre o trabalho e a lesão alegada. Sem esse respaldo técnico, tanto empresas quanto empregados ficam vulneráveis a erros ou manipulações.
Cultura de segurança e comunicação transparente
Empresas com cultura de segurança forte e diálogo aberto reduzem drasticamente o risco de conflitos. Quando o trabalhador sente confiança no sistema, ele reporta o que realmente ocorre — sem medo ou necessidade de distorcer fatos.
Educação: direitos e deveres no ambiente laboral
É essencial ensinar que acidentes de trabalho verdadeiros são amparados por lei, mas fraudar informações pode gerar punições severas. Treinamentos de integração e campanhas educativas devem abordar ética, responsabilidade e transparência.
Boas práticas para engenheiros e gestores de segurança
🧾 Investigue tecnicamente — use dados, laudos e histórico médico.
📋 Registre tudo formalmente — inclusive ocorrências leves e relatos informais.
🤝 Comunique e acolha — fortaleça a confiança entre trabalhador e gestão.
⚙️ Apoie perícias independentes — a transparência técnica é seu melhor escudo.
🧠 Atue preventivamente — reveja ergonomia, cargas e processos repetitivos.
Conclusão
Esse caso reforça que ética e técnica caminham juntas na segurança do trabalho. Fraudar acidentes não apenas fere a lei, mas enfraquece a cultura de prevenção que tantos profissionais lutam para construir. Cabe a nós, engenheiros e gestores de segurança, fortalecer os mecanismos de controle, educação e confiança, garantindo um ambiente mais seguro e justo para todos.



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