
A partir de maio de 2025, uma importante atualização será implementada no processo de Gerenciamento de Riscos Ocupacionais (GRO): a inclusão, em caráter educativo, dos fatores de risco psicossociais. Essa nova abordagem, divulgada pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), representa um avanço significativo na forma como enxergamos a saúde e segurança do trabalhador.
Como engenheiro de segurança do trabalho, acompanho de perto as mudanças na legislação e, mais do que isso, o impacto prático dessas normas nas empresas e na vida dos trabalhadores. E posso afirmar: essa é uma evolução necessária.
O que são os fatores de risco psicossociais?
São aqueles relacionados à forma como o trabalho é organizado, às relações interpessoais no ambiente laboral e à própria estrutura da atividade exercida. Em outras palavras, estamos falando de jornadas exaustivas, metas inalcançáveis, assédio, pressão excessiva, insegurança no emprego, entre outros fatores que afetam diretamente a saúde mental dos trabalhadores.
Esses riscos, muitas vezes invisíveis aos olhos de quem avalia apenas os aspectos físicos de uma atividade, têm ganhado cada vez mais destaque no cenário atual, especialmente após os reflexos emocionais trazidos pela pandemia e por mudanças nos modelos de gestão.
O que muda na prática?
A partir de maio, o MTE passará a exigir a identificação, avaliação e registro dos riscos psicossociais no PGR (Programa de Gerenciamento de Riscos), conforme previsto pela NR-01. No entanto, neste primeiro momento, a abordagem será educativa e orientativa, com o objetivo de preparar as empresas para a futura fiscalização e promover uma cultura preventiva mais completa e humana.
Ou seja, não se trata ainda de autuações ou penalidades, mas sim de um processo de sensibilização e conscientização, no qual os auditores fiscais do trabalho estarão atuando para orientar empregadores e responsáveis técnicos sobre como mapear e lidar com esses riscos no ambiente organizacional.
Por que isso é importante?
Porque estamos falando de doenças ocupacionais silenciosas, que impactam não só a produtividade, mas a qualidade de vida dos trabalhadores. Transtornos como ansiedade, depressão, síndrome de burnout e estresse crônico estão entre os principais motivos de afastamentos e adoecimentos hoje no Brasil.
Ao incluirmos os fatores psicossociais no GRO, estamos ampliando a visão da SST para além do capacete, do cinto de segurança e da proteção coletiva. Estamos, finalmente, reconhecendo que a mente também faz parte do corpo do trabalhador — e que o ambiente de trabalho tem papel direto na sua saúde psicológica.
Como se preparar?
Para nós, profissionais de SST, o momento é de atualização e reflexão. É preciso capacitar nossas equipes, rever os instrumentos de análise de risco e entender que o diálogo com os trabalhadores será ainda mais essencial. Escutar, observar e atuar com empatia será tão importante quanto aplicar uma APR ou revisar um procedimento.
Além disso, o Ministério promete disponibilizar guias, cartilhas e materiais de apoio para orientar as empresas nessa jornada. Aproveite esse momento educativo para fortalecer a cultura de prevenção dentro da sua organização e preparar-se para quando a fiscalização se tornar efetiva.
Conclusão
Essa nova fase do GRO é, sem dúvida, um marco para quem acredita em uma SST mais humanizada e eficaz. Incluir os riscos psicossociais não é apenas cumprir norma — é cuidar de pessoas de forma completa. E, como engenheiros, técnicos e gestores de segurança, esse é (ou deveria ser) o nosso propósito principal.